Era uma vez uma menina azul e grave, que vivia num reino longínquo, onde os pandas sorriam quando o sol se punha em cima das mesas a contar estórias obscenas.
Ora a menina, que mudava de tom de azul consoante os seus estados de humor, vivia numa incerteza latente entre a realidade que a rodeava e o mundo de fantasia onde se movia secretamente; incapaz de perceber se de facto as malhas das estradas tinham coração de hiena ou se eram meramente figuras de estilo nas quais ela optava por acreditar.
Num dia em que acordou azul eléctrico pensou:
-Sou absurda... ainda acredito em fadas, em baleias assassinas e na música!
Ficou furiosa consigo própria e pensou novamente:
-Vou deixar de ser grave e ficar cor-de-rosa.
Tomada essa resolução, pouco a pouco começou a sentir-se ficar azul-bebé e por dentro, calmamente, esperou a mudança radical de cor.
Enquanto esperava e não acontecia, para que não desse por si aborrecida com a nova resolução decidiu sair de casa e passear até à orla da floresta que ladeava o seu tão longínquo reino.
Caminhou de forma segura e decidida, enquanto comia uma mão cheia de avelãs que roubara pelo caminho a um mercador boçal desatento; enquanto mastigava pensou novamente:
-Será que as estórias têm de ter príncipio, meio e fim? Ou será que podemos continuar impunes a massacrar os nossos leitores?
Não foi mais longe neste pensamento; caiu morta, redonda e em azul índigo, de uma apoplexia causada pelo esforço sobre-humano da mudança de cor.
Moral da estória: nunca filosofar sobre a grandes questões humanas num reino onde existam sóis obscenos.