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A SAUDADE É A NOSSA ALMA DIZENDO PARA ONDE ELA QUER VOLTAR...

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

De volta por instantes.

Porto, 3 da manhã.
É a hora certa para sair; ligo o pequeno bólide vermelho e faço-me à estrada; vou ver a cidade, o rio e desembocar no mar. Trajecto planeado.
Quero cheirar a noite da minha cidade.
Acompanha-me a lua trapalhona, pendurada no céu por um braço.
Gosto destas horas no Porto, destas pausas respiradas que a cidade me permite, destas noites em que me perdoa por estar sempre a fugir para outros sítios; às vezes faz-me beicinho em coquette mal amanhada, mas como sabe que não tem jeito para figuras chiques, sussurra-me uma gargalhada ao ouvido e deixa-se de merdas.
Vou passando pelas tuas ruas, rádio ligado e mal sintonizado (será que as antenas funcionam pior à noite? Será que ainda tenho antena? Logo reparo melhor), passo: pelas casas velhas, pelos shopings novos, pelas pontes que se iluminam, pelos homens que te lavam as pedras da calçada, pelas putas e travestis que sorriem sem vontade, pela arte abandonada à rebelia na Avenida e que ainda ninguém reparou que lá não devia estar (grande Sesões que vens de tão longe ensinar como se faz!!!) e tudo respira noutra realidade; nunca nenhuma cidade será como tu, mais nenhuma tem esta mistura entre o brejeiro e o melancólico, a luz das àguas e o fantasmagórico dos teus nevoeiros.
Chego ao mar. Páro, sentas-te no meu colo, cidade, e fumamos um cigarro a meias, sem pensar. Ficamos assim um bom bocado, até os pés se queixarem do frio e as mãos ficarem roxas.
Volto ao bólide e ao rádio, que de repente funciona melhor (vá-se lá perceber!), e estou pronta a dizer-te um até já e ir para casa dormir; mas eis que... subitamente... se fazem ouvir os primeiros acordes da "Easy" dos Faith No More! Sem saber era mesmo isto que me apetecia ouvir hoje! E logo a seguir (UAU!) "Golden Brown", dos The Stranglers (que partida é esta? Quem está encarregue de me descobrir as músicas?); mais uma, logo de seguida: Chris de Burgh, "The lady in red" (a ficar cada vez melhor). Só pode ser um sinal para não parar de andar nas tuas ruas, pelo menos até a banda sonora perder qualidade ou ganhar uma coerência chata.
Desisto da ideia de ir para casa, troco as voltas ao trajecto planeado, saco da artilharia pesada, uma cassete (sim, em pessoa antiga que sou ainda tenho cassetes); Red Hot Chili Peppers, "Blood, Sugar Sex, Magic"; não posso confiar sempre no rádio, não vá de repente começar a dar Carla Bruni e estragar tudo; e entro em improvisação!
Viajo por todo o lado, por todas as ruelas, faço o rio e o mar de alto a baixo, visito os teus nichos, revisito o que me dá na real gana uma e outra vez, páro de vez em quando para fumar e ouço-te rir cada vez mais alto.
Tinha saudades tuas cidade.
Queria voltar para sempre, mas sabes que não seríamos felizes; tu não consegues deixar de ser um bocadinho possessiva e ciumenta (sabes que não aguento isso) e eu gosto demais de sentir a estrada debaixo dos pés, não consigo estar parada no mesmo sítio por muito tempo. Continuamos assim com pequenos momentos, é melhor; sabes que o meu corpo anda por aí, mas que o coração é teu. És a única amante que amo de verdade.
E estou feliz por ter voltado este bocadinho, com pés dormentes e mãos frias, a música chegou ao fim e estou cansada, mas tão feliz!
Agora sim, volto a casa; escrevo este texto meia enrolada no sono, abraço-me e adormeço como se estivesses a meu lado, com o teu cheiro no corpo.
Até já minha cidade.

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Mother Ubu (ou O mundo ao contrário)

E se fosse outro o tempo?
Se houvesse outro equilíbrio?
Se as àrvores cantassem,
E os pássaros nadassem por entre as algas do meu cabelo?
Fazias tudo acontecer se as palavras acabassem antes do fim?
Estás parado;
Eu comecei a correr.
Persigo esse mundo ao contrário que se vê pelas sombras do chão.
Mas, não sei se vou, indo.
Já vejo os leopardos vegetarianos ao fundo da rua.
Alucino?
Parece-me esse outro tempo.
Quantas versos mudos te devo nesse infinito?
Quantos pedaços perdi em histórias que nos perderam?
Não penso mais nisso, vá...
Deixo-me ir pela rua de ladrilhos amarelos com os meus companheiros.
Esperando, de facto, que haja outro place like home.
Até já, encontramo-nos fora do labirinto.

Requiem for a dream

Devastador...
Brilhante...
Demorou quase um ano a vê-lo, mas obrigada pelo presente Sr. Ascêncio da drogaria.

P.S.: Não o vejam em noites de insónia, não é dos que ajudam a dormir.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

A nova religião diz:

O Fernando Alvim todo ele é uma inicial!


Ordem dos Molhongos
(pobre dele e temos dito.)

Para a minha avó.


P. S.: Aquela de quem eu gosto, não a que é testemunha de jeová.

Cartas de amor... quem as não tem?

Não resisti...
Encontrei este vídeo por aí perdido no Youtube e decidi pô-lo aqui em homenagem às verdadeiras declarações de amor pirosas; aquelas de que nos rimos e invejamos!
Com uma música fabulosa de Mercedes Ferrer.

Bloguei?

Bloguei sem saber?
Bloguei por aí?
Esqueci-me que as mãos nuas não contam, só os dedos cobertos de teclas.
E agora estás a olhar para mim em descrédito.
Só te pedi uma caneta, não as jóias da coroa!
Desculpa se bloguei no papel; sei que não conta.
Mas sou tonta.
Pronto bloguei... Assumo o errro.
Pede mais um copo de vinho e cala-te.

Os meus meninos: César, Sebastião Boguinhas, Maria Guedelhas e Ginjas (diminuitivo de Gengis Kahn)










domingo, 27 de janeiro de 2008

Depois do rei Sebastião...

Olha as mãos
Olha os pés
Organiza-te e estabiliza-te
Abraça-te e come-te
Salta a voz e harmoniza-te
Estabiliza-te
Abraça-te e come-me
Trinca-me as pontas dos dedos
Da alma
Os pés da alma
Estabilizada na palma da minha mão.

Guarda-chuvas






Lília: E se nos pendurássemos no cabide como dois guarda-chuvas?

Sílvia: Mas as pessoas esquecem-se sempre dos guarda-chuvas?

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Assim...



Bebi vinho quente das tuas mãos.
Obrigada por me deixares estar nua perante ti.
(para ti meu Victor, que atento me abraçaste a alma numa noite fria.)

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

domingo, 20 de janeiro de 2008

Parto sem dor

"E agora eu vou-me embora
e embora a dor
não queira ir já embora
agora eu vou-me embora
e parto sem dor
E parto dentro de momentos
apesar de haver momentos
em que dentro a dor
não parte sem dor "
Sérgio Godinho

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

A minha casa.



Pela primeira vez na vida, tenho uma casa só para mim. E sorte das sortes encontrei uma que tem personalidade e consequentemente qualidades e defeitos marcados.
A minha casa é semi-velha a fazer de conta que é nova, é por assim dizer como uma starlette hollywoodesca que nunca chegou realmente à fama mas que com intuito de se manter jovem(porque nunca se sabe quando é que o produtor certo nos bate à porta), se foi sujeitando a recauchutagens praticadas por cirurgiões manhosos que a deixaram com um sorriso permanente e a quase impossibilidade de fechar os olhos.

Digamos, em termos quase práticos, que: sofre de humidade nos ossos, o que a leva a descascar as paredes; tem poucas janelas o que a deixa muito rabugenta, especialmente ao crepúsculo; tem tomadas que vão pela máxima "is better to burn out than to fade away" (o que leva a que seja díficil ligar a máquina de sumos recebida no natal dentro da cozinha e não me parece apropriado tê-la no quarto) e ainda por cima sofre de obstipação na sanita, este sim o problema mais grave de todos.

Ao mesmo tempo encantam-me outras das suas características; em primeiro lugar o facto de ser circular, podemos percorrer a casa toda sem voltar atrás porque nos deparamos com uma parede, há sempre uma porta (ah, mesmo que as fechaduras não funcionem muito bem e que se corra o risco de ficar preso na casa-de-banho, coisa sem demais de importância se formos a ver, estamos avisados, se fecharmos as portas é porque somos tolos!); depois adoro o facto de ter um quarto interior, exactamente no coração da casa, que tem uma janela maravilhosa... para a sala, mas não é uma janela qualquer, esta dá vontade de espreitar lá para dentro porque tem um ar atrevido e orgulhoso, de janela que se está bem marimbando para o facto de não se virar para a rua. Também temos a questão dos interruptores espalhados pela casa que aparentemente não servem para nada, pois por mais que lhes carreguemos não acendem nem apagam nenhuma luz que se possa ver, mas eu gosto de pensar que na verdade eles estão a funcionar noutra casa qualquer, e que sem querer estou a apagar a luz ao senhor que lê o jornal no sofá da sala ou a acender a luz àquele casal de adolescentes que se esgueirou para casa dos pais dela e que planeava fazer amor às escuras.

Mas o que mais gosto nesta minha casa é a possibilidade de conversas infinitas que ela proporciona. Sim, obviamente eu tenho algum peso aqui, sou actuante nestas conversas; ninguém vem para cá falar para as paredes com humidade, falam comigo; mas acho que esta minha casa tem um aconchego muito especial e uma respiração que facilita as palavras.

Abençoada casa com uma cozinha onde já se desfiaram memórias, histórias e pedaços de nós, onde se partilharam silêncios e olhares de uma beleza cansada enquanto se fumavam cigarros; bendita sala onde se pode ouvir aquela música que só nos apetece às três da manhã, sem acordar o mundo que habita dois andares acima e onde, com generoso vinho, se receberam os amigos; profano quarto com esquadria estranha e cama alta e impune, onde o brilho e a surpresa do teu olhar me fizeram enredar no teu cabelo.

Gosto desta minha casa...

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Neste dia não quero acordar















"Estamos ambos a olhar para a mesma lua do mesmo mundo. Estamos ligados à realidade através do mesmo fio. Só preciso de o ir puxando devagarinho para mim."


Sputnick meu amor
Haruki Murakami

Um dia antes deste dia, envolvida em conversa tardia com um amigo com quem revisitava lugares nossos, pensava para mim em surdina que tinha demasiado espaço entre as palavras. Que me sobravam vácuos que não conseguia preencher com respirações suficientes para que tudo fizesse sentido.
Pensava que estava a dormir, mas estava acordada. Perdida num limbo que me permitia estar sem ser.
Pois neste dia novo não quero acordar.
Porque sem estar, fui. Dormia sem saber e o sonho entrou na realidade em que pensava existir e revelou-me com um abraço que afinal estava do outro lado do espelho, na noite imaginada deste dia.
Os vácuos preencheram-se sem que eu tivesse intenções de que se fizessem cumprir promessas ou desejos lançados para o ar em tom de brincadeira.
O inesperado nunca se cumpre se nos sentamos à porta à espera que nos faça uma visita (já devia ter aprendido esta lição), surge quando viramos as costas e pensamos noutras existências.
Às vezes somos mais reais nos nosso sonhos, se eles nos apanham desprevenidos.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Shall we dance?





A dama de Xangai

Orson Welles