Pela cidade, pelas ruelas, pelas quelhas, pelos becos, em cada berma de estrada, a música anda à solta.
O vinho desce gargantas desesperadas que pedem mais...
Ouve-se o troar incessante de pedaços de corpos que caem em êxtase.
Correm os seres humanos, doidos, à procura do ritmo certo.
Gritam as mulheres, xãmas-mães perdidas, em danças rituais de acasalamento; deseperadas pela fertilidade aparente de todos os gays da rua.
Os homens olham com inveja para tudo o que não podem alcançar; querem ser lobos e acabam cordeiros no meio das pernas da bruxa mais shakespiriana que encontram.
Respira-se o riso solto e as ancas que balançam e a dor de não ter e o prazer de perder e a cura de encontrar e o jogo de querer e mais que venha...
E a música não pára e a exaltação começa.
E os braços que não chegam, os braços que agarrem o corpo que desliza suado na pista, só para ti, que não tens nome nem cara.
Todos querem comer quem são.
Todos querem a música.
E grita a Amy: "Love is a losing game" e todos gemem em angústia mal disfarçada, como coiotes perante uma lua cheia.
Perdem-se almas no fumo de cigarros mal acessos e vislumbram-se beijos na penumbra de cada antecâmera da noite.
E eu, Shotgun Daisy, no meio de tudo, desta cadência... solto gargalhadas, nesta roda viva da música que me faz hesitar; porque no fim de tudo o único som que ouço é o da tua voz que me foge.