Estava para aqui a pensar na vida... A fumar uns cigarros... A pensar sobre o estado das coisas... A penar com o estado das coisas.
Procurei na net: o estado das coisas; descobri o site de uma banda gaucha, um blog com a vida de uma pessoa, uma notícia do Expresso sobre o estado das coisas e o PS... Fiquei a saber o mesmo!
Falei com uns amigos, sobre o estado das coisas, uns disseram-me:
- Ó mulher! Não te chateies com isso, vais morrer cedo!
Outros:
- Vai pó c*%$»@o! Nem me fales nisso, que me fazes morrer cedo!
Fiquei a saber o mesmo!
Perguntei a uns estrangeiros que encontrei que tal para eles o estado das coisas; saltaram por cima da questão e só queriam falar sobre o preço da cerveja em portugal (é muito barata e tudo o mais, as casas também muito baratas e que pitoresco que é tudo, as ruas todas a subir e descer que estafa e que espanto falam quase todos inglês e tudo, que civilizado este país à beira mar plantado!!!). Nem é preciso, mas repito: fiquei a saber o mesmo!
Aqui decidi abandonar o abrangente e passar para o plano pessoal; pus-me a pensar no estado das minhas coisas!
28 anos; actriz (ó profissão malvada e malfadada neste país à beira mar plantado); com uma casa alugada a quatro (sim, que as casas só são baratas para os estrangeiros); dois empregos; uma companhia de teatro sem dinheiro que alimenta a sua arte com o sangue dos resistentes; um olho pisado, não porque, ainda por cima, leve porrada, mas porque sou tonta e não tenho consciência do espaço (fui sempre em frente sem travar, contra um charriot); uns pais maravilhosos, mas que ainda não percebem porque é que a filha deles não tem um curso "normal" e ainda não lhes deu netos; uns conhecidos que acham uma piadona ter na sua carteira de relações uma pessoa tão "fora" que até faz teatro e "- vê lá se arranjas uns bilhetes de borla para vermos umas coisas giras, mas nada daquelas merdas intelectuais que vocês fazem, uma cena leve, tipo Morangos com Açucar versão porno!"...
E estava eu nisto... A pensar e a penar com o estado das coisas do mundo e com o estado das minhas coisas... Deliciada com a minha miséria e a lambuzar-me de auto-comiseração, quando de repente e do nada (isto não se faz!), um perfeito estranho me oferece um gelado! Um Magnum Colombia Aroma (passo a publicidade, mas experimentem que é bom); e não se iludam, cépticos da humanidade, este pequeno presente não vinha com expectativas coladas, ele (o estranho) não me queria comer, não queria comer uma amiga minha, não queria comer um amigo meu, não queria que lhe fizesse uma sandes, não queria que lhe cortasse as unhas dos pés, não... só me queria oferecer um gelado!
E aqui eu parei!
- Espera!- disse eu a mim própria, que eu gosto de falar comigo, entendo-me melhor asssim - Estás tu para aqui a queixar-te da vida e a penar com a existência e com o estado das coisas e vem este senhor oferecer-te um gelado? Olha lá, moça, que gesto bonito e sem segundas intenções! Tu que estavas aqui prestes a cortar os pulsos virtualmente, és surpreendida por uma coisa destas... Pois não achas que devias pensar um bocadinho e daqui tirar uma lição?
E eu, que por norma acato sempre as minhas sugestões, pus-me novamente a pensar.
E cheguei a uma conclusão: Que se foda o estado das coisas!
Enquanto tivermos estranhos que nos ofereçam gelados, enquanto defendermos as nossas escolhas com orgulho, enquanto tivermos sangue na guelra e força nas pernas e acima de tudo enquanto tivermos à nossa volta pessoas que fazem por nós pequenas coisas, sem segundas intenções; umas porque não nos conhecem e lhes apetece, outras porque gostam de nós assim, como somos, sem mais nada (mesmo quando temos um problema de consciência de espaço e andamos sempre a esbarrar em tudo); o estado das coisas é secundário!
O governo pode ir para o raio que o parta, os subsídios podem ir para o diabo a quatro, os ignorantes podem implodir, o país pode ser vendido aos espanhóis... Mais importante que o estado das coisas é ter pessoas a quem perguntar por ele e ter amigos que nos mandam para o real caralho quando começamos outra vez com a merda da conversa chata e que nos trazem de volta a terra quando já estamos a voar por cima de nós próprios!
P.S.: Pai, mãe, não sei quando, mas prometo pelo menos dar-vos netos.
Procurei na net: o estado das coisas; descobri o site de uma banda gaucha, um blog com a vida de uma pessoa, uma notícia do Expresso sobre o estado das coisas e o PS... Fiquei a saber o mesmo!
Falei com uns amigos, sobre o estado das coisas, uns disseram-me:
- Ó mulher! Não te chateies com isso, vais morrer cedo!
Outros:
- Vai pó c*%$»@o! Nem me fales nisso, que me fazes morrer cedo!
Fiquei a saber o mesmo!
Perguntei a uns estrangeiros que encontrei que tal para eles o estado das coisas; saltaram por cima da questão e só queriam falar sobre o preço da cerveja em portugal (é muito barata e tudo o mais, as casas também muito baratas e que pitoresco que é tudo, as ruas todas a subir e descer que estafa e que espanto falam quase todos inglês e tudo, que civilizado este país à beira mar plantado!!!). Nem é preciso, mas repito: fiquei a saber o mesmo!
Aqui decidi abandonar o abrangente e passar para o plano pessoal; pus-me a pensar no estado das minhas coisas!
28 anos; actriz (ó profissão malvada e malfadada neste país à beira mar plantado); com uma casa alugada a quatro (sim, que as casas só são baratas para os estrangeiros); dois empregos; uma companhia de teatro sem dinheiro que alimenta a sua arte com o sangue dos resistentes; um olho pisado, não porque, ainda por cima, leve porrada, mas porque sou tonta e não tenho consciência do espaço (fui sempre em frente sem travar, contra um charriot); uns pais maravilhosos, mas que ainda não percebem porque é que a filha deles não tem um curso "normal" e ainda não lhes deu netos; uns conhecidos que acham uma piadona ter na sua carteira de relações uma pessoa tão "fora" que até faz teatro e "- vê lá se arranjas uns bilhetes de borla para vermos umas coisas giras, mas nada daquelas merdas intelectuais que vocês fazem, uma cena leve, tipo Morangos com Açucar versão porno!"...
E estava eu nisto... A pensar e a penar com o estado das coisas do mundo e com o estado das minhas coisas... Deliciada com a minha miséria e a lambuzar-me de auto-comiseração, quando de repente e do nada (isto não se faz!), um perfeito estranho me oferece um gelado! Um Magnum Colombia Aroma (passo a publicidade, mas experimentem que é bom); e não se iludam, cépticos da humanidade, este pequeno presente não vinha com expectativas coladas, ele (o estranho) não me queria comer, não queria comer uma amiga minha, não queria comer um amigo meu, não queria que lhe fizesse uma sandes, não queria que lhe cortasse as unhas dos pés, não... só me queria oferecer um gelado!
E aqui eu parei!
- Espera!- disse eu a mim própria, que eu gosto de falar comigo, entendo-me melhor asssim - Estás tu para aqui a queixar-te da vida e a penar com a existência e com o estado das coisas e vem este senhor oferecer-te um gelado? Olha lá, moça, que gesto bonito e sem segundas intenções! Tu que estavas aqui prestes a cortar os pulsos virtualmente, és surpreendida por uma coisa destas... Pois não achas que devias pensar um bocadinho e daqui tirar uma lição?
E eu, que por norma acato sempre as minhas sugestões, pus-me novamente a pensar.
E cheguei a uma conclusão: Que se foda o estado das coisas!
Enquanto tivermos estranhos que nos ofereçam gelados, enquanto defendermos as nossas escolhas com orgulho, enquanto tivermos sangue na guelra e força nas pernas e acima de tudo enquanto tivermos à nossa volta pessoas que fazem por nós pequenas coisas, sem segundas intenções; umas porque não nos conhecem e lhes apetece, outras porque gostam de nós assim, como somos, sem mais nada (mesmo quando temos um problema de consciência de espaço e andamos sempre a esbarrar em tudo); o estado das coisas é secundário!
O governo pode ir para o raio que o parta, os subsídios podem ir para o diabo a quatro, os ignorantes podem implodir, o país pode ser vendido aos espanhóis... Mais importante que o estado das coisas é ter pessoas a quem perguntar por ele e ter amigos que nos mandam para o real caralho quando começamos outra vez com a merda da conversa chata e que nos trazem de volta a terra quando já estamos a voar por cima de nós próprios!
P.S.: Pai, mãe, não sei quando, mas prometo pelo menos dar-vos netos.
2 comentários:
Ah pois é... este tipo de nada é o que ainda nos move.
P.S.
Adorei saber que tens um olho pisado.
Burro que gemendo ri
Não fiques tu com um quando eu te encontrar! Pó C@$&%*# canastrão...
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