And she was... The best kind of evil!
sábado, 27 de dezembro de 2008
sexta-feira, 19 de dezembro de 2008
segunda-feira, 15 de dezembro de 2008
Pérolas de sabedoria I*
Faz-me um bôbo que eu faço-te um bebé!
*Maravilhas da expressão portuguesa até agora desconhecidas por mim
*Maravilhas da expressão portuguesa até agora desconhecidas por mim
quinta-feira, 11 de dezembro de 2008
5 meses e 10 anos
Pois
Era assim e já não é.
Era tudo tão azul e com o rio pelo meio e com os barcos ao fundo e com a cidade ao longe.
E já não é.
Era só Lobo Antunes massacrado num sussuro de cegueira em Murakami, que se meteu pelo meio sem a isso ser convidado, por isso o que foi deixou de ser.
Era um jantar estranho, regado com vinho doce e batatas amarradas em cara hirsuta e elas estragaram a noite e já não é.
Podia ser uma coisa, até podiam ser duas (lá por isso!), e já não pode ser.
E depois? Shit happens.
Era uma noite fria que pedia agasalho e pantufas e tolices e amêndoas de Páscoa, mas acabaram e deixou-se de ser.
Era assim e depois foi outra coisa e que se lixe, the show must go on, com um coro diferente que saiba ser assim-assim, sem ser aquilo que já não é.
Assim como quem não quer a coisa que pede, mas já pediu, a cena podia ter sido mais dramática, mas nunca foi.
O que foi já lá vai, Badajoz à vista sem contrabandista, morre a mística do que nunca é.
Era assim e depois não é.
Era tudo tão azul e com o rio pelo meio e com os barcos ao fundo e com a cidade ao longe.
E já não é.
Era só Lobo Antunes massacrado num sussuro de cegueira em Murakami, que se meteu pelo meio sem a isso ser convidado, por isso o que foi deixou de ser.
Era um jantar estranho, regado com vinho doce e batatas amarradas em cara hirsuta e elas estragaram a noite e já não é.
Podia ser uma coisa, até podiam ser duas (lá por isso!), e já não pode ser.
E depois? Shit happens.
Era uma noite fria que pedia agasalho e pantufas e tolices e amêndoas de Páscoa, mas acabaram e deixou-se de ser.
Era assim e depois foi outra coisa e que se lixe, the show must go on, com um coro diferente que saiba ser assim-assim, sem ser aquilo que já não é.
Assim como quem não quer a coisa que pede, mas já pediu, a cena podia ter sido mais dramática, mas nunca foi.
O que foi já lá vai, Badajoz à vista sem contrabandista, morre a mística do que nunca é.
Era assim e depois não é.
sexta-feira, 10 de outubro de 2008
sábado, 4 de outubro de 2008
quarta-feira, 24 de setembro de 2008
Ai, as vontades...
terça-feira, 2 de setembro de 2008
A nova (já um pouco repassada) religião rectifica-se...
Afinal o Alvim não é todo ele uma inicial.
O sua cotação com a ordem dos Molhogos subiu e concedemos-lhe mais letras.
Noutra altura especificaremos quais.
A ordem dos Molhongos!!!
P.S.: A religão rectifica assim a sua blogada de Janeiro passado. Aleluia!!! Sara, vá... Shanti; Shanti, que quem shanti os seus males espanti!
segunda-feira, 1 de setembro de 2008
Divagações musicais com o burro que geme sobre pan-pipes e afins de mau...
13 de Agosto; Metro do Porto.
Música ambiente: Phil Collins - Another day in paradise em versão Panpipes.
Tinha acabado de perder um metro, ía ter de gramar a música até ao fim, para amenizar a minha dor decidi partilhar o momento, via sms, com o amigo Burro que se acautela gemendo. Eis o seu comentário...
Burro que geme: -"Podia ser pior. Podia ser a Celine Dion acompanhada pelas Panpipes a cantar uma música do Phil Collins. E a um canto, ao piano, o Richard Cleiderman; todos vestidos pelo João Rolo; numa encenação do Ricardo Pais e com direcção musical do Filipe La Féria. - "Há coisas tenebrosas, não há?"- dizem, suspensos da teia, e em cânone, vestidos de anjos pós-modernos, a Isabel Silvestre e o João Reis; enquanto pela esquerda baixa, agarrada a sua viola, entra Dina, vestida de forma barroca, musicando poemas de intervenção e da direita alta, barroca também, Adriana Calcanhoto diz poesia concreta. Tudo termina quando, vinda do fosso numa fonte luminosa, surge Mariza cantando Doors em fado!"
Que responder a isto... Pois tens toda a razão e o Júlio Isidro tem um nariz demasiado grande. Factos são factos!
quarta-feira, 20 de agosto de 2008
segunda-feira, 14 de julho de 2008
quinta-feira, 19 de junho de 2008
As ideias assassinas
Era uma vez uma menina azul e grave, que vivia num reino longínquo, onde os pandas sorriam quando o sol se punha em cima das mesas a contar estórias obscenas.
Ora a menina, que mudava de tom de azul consoante os seus estados de humor, vivia numa incerteza latente entre a realidade que a rodeava e o mundo de fantasia onde se movia secretamente; incapaz de perceber se de facto as malhas das estradas tinham coração de hiena ou se eram meramente figuras de estilo nas quais ela optava por acreditar.
Num dia em que acordou azul eléctrico pensou:
-Sou absurda... ainda acredito em fadas, em baleias assassinas e na música!
Ficou furiosa consigo própria e pensou novamente:
-Vou deixar de ser grave e ficar cor-de-rosa.
Tomada essa resolução, pouco a pouco começou a sentir-se ficar azul-bebé e por dentro, calmamente, esperou a mudança radical de cor.
Enquanto esperava e não acontecia, para que não desse por si aborrecida com a nova resolução decidiu sair de casa e passear até à orla da floresta que ladeava o seu tão longínquo reino.
Caminhou de forma segura e decidida, enquanto comia uma mão cheia de avelãs que roubara pelo caminho a um mercador boçal desatento; enquanto mastigava pensou novamente:
-Será que as estórias têm de ter príncipio, meio e fim? Ou será que podemos continuar impunes a massacrar os nossos leitores?
Não foi mais longe neste pensamento; caiu morta, redonda e em azul índigo, de uma apoplexia causada pelo esforço sobre-humano da mudança de cor.
Moral da estória: nunca filosofar sobre a grandes questões humanas num reino onde existam sóis obscenos.
sexta-feira, 13 de junho de 2008
Tenho sede
Quero àgua para beber, para passar nas palmas das mãos, para lavar a cara e o colo, para molhar os pés sedentos na terra pisada.
Quero àgua na boca, quero a àgua da tua boca.
Quero debaixo dessa àgua deixar morrer as velhas e saltar poças com dedos exaltados.
Quero água para lavar as vontades cabisbaixas que correm em lamaçal.
Quero água para me rir de ti e contigo no teu colo; quero àgua que nos encharque e que nos pese o corpo molhado na cama.
Quero àgua da chuva nas minhas veias.
Quero àgua na alma para te poder gritar "Eu amo-te" sem que percebas...
Tenho tanta sede!
quarta-feira, 21 de maio de 2008
Gnarls Barkley-Transformer
As palavras na música...
P.S.: Obrigada Pedro era mesmo de ouvir isto que estava a precisar...
sábado, 17 de maio de 2008
quinta-feira, 15 de maio de 2008
terça-feira, 22 de abril de 2008
segunda-feira, 31 de março de 2008
A hipopótama mais linda!
Um brinde:
aos bons encontros;
ao vinho no Maria Caxuxa e aos chás por todo o lado;
ao toureiro que lê Kafka;
ao Ramón Gomez de la Serna;
aos estacionamentos e aos rádios perdidos;
aos concertos e à confusão de Corações;
a Nova York (não te esqueças de voltar de visita, pelo menos);
ao tabaco de cereja que se enrola em cima da mesa, sem filtro;
às mãos que se apaixonam;
ao "cá estamos";
ao teatro;
ao nosso joão;
às runas e aos poemas que esquecemos;
aos óscares;
ao truque da garrafa;
a sermos boémias...
um brinde e um beijo para ti simplesmente Maria (como a fotonovela).
quinta-feira, 20 de março de 2008
Pelas três da manhã
Acabei de lavar o cabelo de joelhos e decidi pôr-me bonita para sair
Envolvi-me em palavras por dizer
Vesti aquele ser carinhoso que tu encontraste um dia
Pintei os olhos de negro e cinza de cigarro
Olhei-me ao espelho e sorri quando não me vi
Saí de casa e respirei fundo a poluição da noite
Parei para pensar e saiu-me uma música dos lábios
Decidi ir em frente sabendo que tropeçava nos papéis espalhados pelo homens do lixo
Cheguei à hora marcada por mim e não esperava nada
Bebi um Silvestre nesse bar desconhecido com música que cheirava a mofo
Olhei em volta e percebi que não era ali, fiquei na mesma, desfazada por não ser e aliviada por perceber
Esperei sentada, enquanto movia as ancas descadeiradas
Fiquei a ver as baratas a dançar o tango com pernas bambas
As palavras por dizer abandonaram-me e foram dançar com as ditas
O ser carinhoso apanhou um avião que passava ali ao pé e fugiu para outro país onde a música se canta noutra língua
Fiquei só negra, com a cinza de cigarro a pairar à minha frente
Cansei as ancas e voltei a casa para dormir.
Envolvi-me em palavras por dizer
Vesti aquele ser carinhoso que tu encontraste um dia
Pintei os olhos de negro e cinza de cigarro
Olhei-me ao espelho e sorri quando não me vi
Saí de casa e respirei fundo a poluição da noite
Parei para pensar e saiu-me uma música dos lábios
Decidi ir em frente sabendo que tropeçava nos papéis espalhados pelo homens do lixo
Cheguei à hora marcada por mim e não esperava nada
Bebi um Silvestre nesse bar desconhecido com música que cheirava a mofo
Olhei em volta e percebi que não era ali, fiquei na mesma, desfazada por não ser e aliviada por perceber
Esperei sentada, enquanto movia as ancas descadeiradas
Fiquei a ver as baratas a dançar o tango com pernas bambas
As palavras por dizer abandonaram-me e foram dançar com as ditas
O ser carinhoso apanhou um avião que passava ali ao pé e fugiu para outro país onde a música se canta noutra língua
Fiquei só negra, com a cinza de cigarro a pairar à minha frente
Cansei as ancas e voltei a casa para dormir.
terça-feira, 18 de março de 2008
Menina Craft
Ai... Ai... Já lá vai um certo tempo desde que isto foi feito.
Mas eu continuo a gostar muito desta pianista destrambelhada.
quinta-feira, 13 de março de 2008
sexta-feira, 7 de março de 2008
Estes dias ando com vontade de:
Fugir para a beira-mar e molhar os pés, enquanto me rio às gargalhadas;
Cantar desafinado depois de 5 cervejas;
Descobrir músicas novas para cantar desafinadas;
Besuntar os meus amigos de chocolate e cobri-los de beijos;
Ouvir, com os mesmos, as músicas do Variações;
Me rir de piadas parvas;
Dar abraços acidentais e acidentados de ternura (abraços grátis oferecem-se);
Discutir ferozmente sobre os Beach Boys, fazer as pazes ao som de T-Rex e concordar que Os Zombies são do caraças;
Beber vinho em companhia de amigos que tragam amigos que, por sua vez, sejam amigos de amigos que tragam mais amigos (pode ser em minha casa);
Andar de baloiço até ficar tonta;
Voltar a ver os filmes do Ed Wood;
Aprender a fazer surf (o resultado será por certo desastroso);
Que me leiam a palma da mão e me digam uma data de coisas idiotas que possa contar ao pessoal em tom de galhofeira;
Visitar a Índia;
Fumar menos;
Tatuar o Chat Noir algures (tatuagens só em número ímpar, segundo me dizem, e não quero ter azar);
Tomar banhos de imersão, com espuma, a ouvir música pouco calma;
Dançar o Like a Virgin da Madonna em roupa interior pela casa;
Comer panquecas com chocolate e bola de gelado feitas pelo André;
Experimentar, a sério, a bola de Pilates que anda para aqui perdida meia a fazer de cadeira extraordinariamente não aerodinâmica e pouco confortável;
Arrumar a roupa espalhada pelo quarto e descobrir coisas que já me tinha esquecido que tinha;
Ir à louca, de carro, até Madrid para passar o fim-de-semana e acabar em Roma sem saber como;
Voltar a trabalhar a sério em coisas a sério, estou farta da gelatina profissional semi-pronta;
Me deixar de merdas e voltar a ser mais eu!
quinta-feira, 6 de março de 2008
Há frases que são da noite
Desconhecido de chapéu: Ela é um bocado espichada!
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F: Amanhã não faço nada; vou ficar em casa de pijama e robe a fumar cigarro atrás de cigarro.
S: Planeias, portanto, no teu dia de folga, matar-te devagar?
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S: Será que estamos a ficar velhos?
R: Não. Temos os nossos momentos de saudosismo, como qualquer pessoa tem.
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F: Amanhã não faço nada; vou ficar em casa de pijama e robe a fumar cigarro atrás de cigarro.
S: Planeias, portanto, no teu dia de folga, matar-te devagar?
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S: Será que estamos a ficar velhos?
R: Não. Temos os nossos momentos de saudosismo, como qualquer pessoa tem.
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terça-feira, 4 de março de 2008
Tão simpática...
Um destes dias, em que não nos apetecia cozinhar, decidimos almoçar num desses cafés na Praça da Figueira, daqueles que cheiram a fritos; escolhemos o que cheirava menos mal, demos uma olhadela aos preços e ao menu, chegámos à conclusão que não nos faria grande mossa nem ao estômago nem à carteira e sentámo-nos na esplanada. Pareceu-nos tudo óptimo!
Mal acabámos de pôr o rabo na cadeira eis que, na mesa exactamente colada à nossa, se senta uma senhora de idade, muito bem posta, com ar fresco e sorridente, que nem pensou duas vezes antes de se alapar alarvemente. Olhámo-nos de soslaio e pensámos exactamente o mesmo: "Vamos ter conversa!"
Pedimos umas lulas recheadas, que ambos concordámos nem se aproximarem daquelas que as nossas respectivas tias fazem (será este um prato exclusivo de tia? Porque é que as mães nunca fazem as lulas recheadas tão bem como as irmãs?), falámos de trabalho, da arte e da vida em geral e secretamente, cada um para o seu lado, interrogava-se já com o silêncio da senhora que ali ao pé comia uma sandes de presunto acompanhada de um belo copo de tintol; ter-no-íamos precipitado naquele primeiro julgamento, será que ela não ía meter conversa? Que estranho, pensávamos.
Tirando a saída de ar, que estava ao nível das nossas pernas, ter entretando começado a soprar ar quente, num dia já de si estranhamente primaveril e quiçá um pouco febril, tudo estava óptimo.
Mas, eis que, nas mesas à frente, timidamente, um casal, todo em loiro e turista, pede para se sentar ao lado do cavalheiro que já lá se encontra, a ler o seu jornal diário. Ora aqui está o que deu o mote à nossa querida vizinha de mesa para encetar connosco uma bela converseta!
Soltou uma risadinha e disse:
-Ah! Estavam com vergonha de se sentar, se estivessem no estrangeiro nem perguntavam, aqui é que não há esse costume, mas no estrangeiro as pessoas nem perguntam, sentam-se e pronto. (Possivelmente não percebeu que eles vinham de facto do estrangeiro, mas isso é o de menos para a nossa pequena estória).
Concluímos, portanto, que a senhora, de sorriso matreiro e ar simpático, teria, nos seus tempos áureos, viajado bastante por essa vastidão que é o chamado estrangeiro (do Fr. étranger; adj. e s. m., que ou o que é de uma nação diferente daquela em que está; os países estrangeiros); daí ter-se sentado tão lampeira sem dizer nem àgua vai, nem àgua vem. Costumes de fora; mais cosmopolitas que os nossos.
A partir daqui foi todo um desenrolar de pequenos fait divers, vai-se a ver a senhora tem 80 anos (não parecia nada, muito bem conservada!), é viúva, tem uma empregada que vai lá a casa de vez em quando e que lava a louça, tem uma filha que é uma querida e que vai sempre almoçar e jantar com ela (se bem que por vezes lhe ligue com um certo peso na consciência a pedir para que a liberte dessa obrigação para poder jantar com uns amigos; ou como aconteceu nesse dia, em que, não só, ía ter uma conferência que lhe ocuparia a hora do almoço, como também o jantar). Entre novas risadas e depois de pedir uma sobremesa, explica-nos que até é bom isso acontecer porque assim pode cometer pequenos pecados, como, por exemplo, pedir aquela fatia de pudim, bem regado de suculento e doce molhongo, coisa que a filha não aprova, se bem que:
- Na minha idade já não tenho de me preocupar com a linha; e se formos a ver a minha filha também não me diz a verdade sobre tudo o que come, não acredito que coma peixe todos os dias ao almoço, às vezes deve comer carne. mas não me conta!
(Família estranha esta, que gosta de esconder pequenos e inocentes pecados!?!).
Entretanto, dá-se um alerta vermelho na esplanada!!! Carteiristas à vista! Um magote deles; esta gente não percebe o conceito de subtileza, juntaram-se uns cinco ou seis ali ao pé, ninguém se deixa assaltar assim, amigos, não insultem a nossa inteligência! Isto causou grande consternação entre os empregados do dito café e provocou, indirectamente, a queda do porta-moedas da nossa simpática interlocutora. Que eu apanhei do chão para não a forçar a vergar as costas.
A isto ela diz-me, meia a piscar o olho ao meu amigo (julgou-nos namorados, por certo):
-Você é muito doce, eu já cá ando há muito tempo e sei reconhecer as pessoas. Você tem uma doçura muito grande!
Agradeci, com o ar mais doce que consegui desencantar no momento- não a queria desiludir- e ponderámos pedir a conta antes que fossemos convidados a jantar lá em casa.
Quando finalmente conseguimos (a consternação anterior tinha alterado o bom funcionamento do estabelecimento) e começámos a debater os trocos para ver se dava certo, a senhora deu-me uma ligeira cotovelada, seguida de piscadela de olho e abanou a cabeça como quem diz:
-Não, não!
Primeiro julguei que aquela sinalética tão intíma, me quisesse dizer que eu não deveria pagar, antes esperar que o homem pagasse tudo; mas tendo em conta que tínhamos o empregado ali para receber não lhe dei a devida atenção. E de todas as formas já estávamos atrasados para a vida e não havia tempo para discutir a mudança de estatutos da mulher nos tempos que correm.
Mas, enganei-me redondamente; mal o empregado se foi embora (aliás um senhor muito simpático e atencioso, abençoado, hei-de voltar lá mais vezes) a nossa interlocutora passou a explicar-nos o sentido da sinalética, ela achou que íamos deixar gorjeta e estava a tentar, sub-repticiamente, dizer-nos para não o fazer.
Ora, isto porquê?
Porque, segundo ela, desde o 25 de Abril, que todos os assalariados/proletários/pobres exigem condições justas e alardemente dizem que não querem esmolas, só os seus direitos; sendo estas pessoas, com todas as suas exigências, muito más para os patrões, chegando- isto digo eu em liberdade poética- alguns patrões a ir para casa a chorar depois do dia de expediente; ora o seu querido esposo, o falecido, sempre foi patrão e vai-se a ver, passou as passas do Algarve com os seus empregados, com esses ranhosos (sendo que ranhosos também é liberdade poética da minha parte, não resisto a entusiasmar-me).
-Se não querem esmolas, também não levam gorjeta. E os meninos não deixem, aproveitem para vocês e para jantar nos "restaurants" (sim, usou do francês, que chique!) e para as vossas coisas, não dêem a estes. Não querem esmolas é porque o ordenado lhes chega bem... aliás agora qualquer empregadito tem carro e tudo, é porque recebem bem!
Neste entretanto, e depois de mais uma data de preciosidades do género proferidas pela nossa nova amiga, entreolhámos-nos incrédulos, com o surpreendente desenvolvimento desta conversa, tão amena até ali, fizémos o nosso sorriso 45, aquele que parece que estamos com prisão de ventre e levantámo-nos, o mais rápido possível, dissémos o nosso adeus e saímos dali com um grande amargo de boca e com uma data de coisas entaladas na garganta.
O que a senhora não sabe, nem nunca saberá, porque nós fomos suficientemente educados para não lho atirar à cara é que os nossos pais fazem parte desses raça de ranhosos assalariados/proletários/probres que sempre tiveram de lidar com os coitadinhos dos patrões; nós conhecemos perfeitamente a condição desses ranhosos que não querem esmolas, que trabalham 12 horas por dia ou mais, que são mal pagos e que exigem direitos que obviamente não merecem.
Os nossos pais, os nosso tios, os nossos avós, nunca saíram deste país (a não ser para trabalharem como cães para essas pessoas que habitam na imensidão que é o estrangeiro); não falam francês e nunca se sentariam sem pedir licença, falta do hábito cosmoplolita por certo; o 25 de Abril quase lhes passou ao lado, estavam demasiados preocupados com fazer dinheiro suficiente para comer; o carro foi pago com o suor do próprio corpo, não com a exploração do corpo dos outros; as nossas mulheres não têm empregadas que lhes lavem a louça e nunca viveram à custa dos maridos, sempre trabalharam, não porque precisem, mas pelo puro prazer de dificultar a vida aos patrões.
E mais, causa-me vergonha parecer tão burguesa que tenha de ouvir discursos como o seu, envergonho-me de parecer uma das suas!
E o que não lhe dissémos na altura, grito-o agora aqui: esmolas pode metê-las pelo cu acima minha simpática e fascista senhora!
segunda-feira, 3 de março de 2008
Neoblanc gentil
sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008
Fosse... Fosse...Fosse!
quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008
As estórias que voam...
Hoje quero contar-te estórias que voam, meu pequeno.
Vou tomar a tua noite e falar-te de fadas trapalhonas, príncipes semi-galantes, anões resmungões e àrvores que falam ao vento; sussurar-te todos os seres azuis que habitam o universo.
Quero contar-te sobre aquela cidade (feita de: rubis, turquesas e bolo de chocolate) onde as crianças correm descalças e riem sempre que vêem o mar, onde os gatos preguiçosos se aninham no colo de qualquer um que lhes assobie uma canção de ninar.
Ali ao fundo, vês, atrás daquela estrela cadente, no sítio onde as estradas se cruzam sempre ao pôr-do-sol! É aí que está; é para aí que as andorinhas voam.
Vou dizer-te da magia dos dias sempre quentes e o maravilhoso das noites deste país de conto de fadas, onde trovadores apaixonados cantam à lua que lhes pisca o olho matreira.
Vais querer que conte outra e outra vez as aventuras dos cavalos alados, com estrelas nos olhos, que saltam pelo infinito a alinhar planetas.
Vais chorar quando te falar da menina que perdeu a luz do coração, mas, logo de seguida, trago um mago para a estória que a salva e que te enxuga as lágrimas.
E vou embalar-te nos meus braços, no lusco fusco que se escoa de uma janela pequena, pendurada no tecto; e beijar-te até ao fim do mundo, enquanto te sussurro estas velhas lengalengas que aprendi em menina.
E tu vais sorrir, enquanto esfregas os olhos de sono, aconchegado entre os lençóis e o meu peito; e vais adormecer, assim enrolado em mim. E eu vou sorrir, aconchegada entre os teus cabelos de mel.
quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008
...
"arrogantemente, vou chamar-lhe sinopse."
alfredo dixit
p.s.: está tudo em minúsculas em tua honra.
segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008
domingo, 17 de fevereiro de 2008
A noite
Pela cidade, pelas ruelas, pelas quelhas, pelos becos, em cada berma de estrada, a música anda à solta.
O vinho desce gargantas desesperadas que pedem mais...
Ouve-se o troar incessante de pedaços de corpos que caem em êxtase.
Correm os seres humanos, doidos, à procura do ritmo certo.
Gritam as mulheres, xãmas-mães perdidas, em danças rituais de acasalamento; deseperadas pela fertilidade aparente de todos os gays da rua.
Os homens olham com inveja para tudo o que não podem alcançar; querem ser lobos e acabam cordeiros no meio das pernas da bruxa mais shakespiriana que encontram.
Respira-se o riso solto e as ancas que balançam e a dor de não ter e o prazer de perder e a cura de encontrar e o jogo de querer e mais que venha...
E a música não pára e a exaltação começa.
E os braços que não chegam, os braços que agarrem o corpo que desliza suado na pista, só para ti, que não tens nome nem cara.
Todos querem comer quem são.
Todos querem a música.
E grita a Amy: "Love is a losing game" e todos gemem em angústia mal disfarçada, como coiotes perante uma lua cheia.
Perdem-se almas no fumo de cigarros mal acessos e vislumbram-se beijos na penumbra de cada antecâmera da noite.
E eu, Shotgun Daisy, no meio de tudo, desta cadência... solto gargalhadas, nesta roda viva da música que me faz hesitar; porque no fim de tudo o único som que ouço é o da tua voz que me foge.
sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008
Considerações sobre o maravilhoso nada
Eu nada.
Tu nada.
Ele nada.
Nós nada.
Vós nada.
Eles nada.
Eu, nada mais posso.
Tu, nada a relatar.
Ele, nada a ver, é tudo a dispersar.
Nós, nada queremos senão querer.
Vós, nada quereis senão ver.
Eles, nada senão perder.
Tudo um maravilhoso nada.
Tu nada.
Ele nada.
Nós nada.
Vós nada.
Eles nada.
Eu, nada mais posso.
Tu, nada a relatar.
Ele, nada a ver, é tudo a dispersar.
Nós, nada queremos senão querer.
Vós, nada quereis senão ver.
Eles, nada senão perder.
Tudo um maravilhoso nada.
domingo, 10 de fevereiro de 2008
No vai-vém das marés
Vê-me voar como gaivota em alto-mar.
Procura-me o corpo nu, envolto em poeira de estrelas.
Vou sorrir-te se vieres,
Sentada, à beira-mar, na espuma da maré.
Serei quase mulher em tuas mãos,
Na areia quente do teu abraço.
Mergulho em ti e volto ao princípio,
Eu gaivota, tu poeta,
No momento do entardecer.
Até voltarmos a não ser àgua, seremos oceanos.
Procura-me o corpo nu, envolto em poeira de estrelas.
Vou sorrir-te se vieres,
Sentada, à beira-mar, na espuma da maré.
Serei quase mulher em tuas mãos,
Na areia quente do teu abraço.
Mergulho em ti e volto ao princípio,
Eu gaivota, tu poeta,
No momento do entardecer.
Até voltarmos a não ser àgua, seremos oceanos.
Turn the lights down, its time to Jazz!
sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008
quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008
Count Duckula & the Space man
quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008
Cadáver pouco esquisito
J: Aquela coisa que tu fizeste em Itália?
S: Sim?
J: Se pudesses ias outra vez, para outra coisa do género, saías daqui?
S: Sim, saía.
J: Sim... sinto essa urgência em ti.
S: Sim?
J: Se pudesses ias outra vez, para outra coisa do género, saías daqui?
S: Sim, saía.
J: Sim... sinto essa urgência em ti.
Casting
Procuram-se mãos que tenham ar
Ar de mãos que agarram mãos e colheres de sopa ao mesmo tempo
Ar de mãos que agarram mãos e colheres de sopa ao mesmo tempo
Mãos que tenham ar de quem sabe fazer festas a gatos
Ar de mãos que sabem apanhar dentes-de-leão e tulipas
Procuram-se mãos que tenham impressões digitais
Ar de mãos que sabem correr atrás de pés esquivos
Procuram-se mãos que sejam capazes de ler palmas das outras mãos
Ar de mãos que conseguem dançar
Procuram-se mãos que possam dizer bom dia em linguagem gestual
Ar de mãos que servem vinho quente
Procuram-se as mãos que se escondam tímidas nos bolsos de gabardines azuis
Ar de mãos que encaixam nas outras
Procuram-se mãos que sabem ser obscenas
Ar de mãos que são criança crescida
Mãos... de todos os tamanhos e feitios
P.S.: as respostas devem ser enviadas para este blog postal
sábado, 2 de fevereiro de 2008
quinta-feira, 31 de janeiro de 2008
De volta por instantes.
Porto, 3 da manhã.
É a hora certa para sair; ligo o pequeno bólide vermelho e faço-me à estrada; vou ver a cidade, o rio e desembocar no mar. Trajecto planeado.
Quero cheirar a noite da minha cidade.
Acompanha-me a lua trapalhona, pendurada no céu por um braço.
Gosto destas horas no Porto, destas pausas respiradas que a cidade me permite, destas noites em que me perdoa por estar sempre a fugir para outros sítios; às vezes faz-me beicinho em coquette mal amanhada, mas como sabe que não tem jeito para figuras chiques, sussurra-me uma gargalhada ao ouvido e deixa-se de merdas.
Vou passando pelas tuas ruas, rádio ligado e mal sintonizado (será que as antenas funcionam pior à noite? Será que ainda tenho antena? Logo reparo melhor), passo: pelas casas velhas, pelos shopings novos, pelas pontes que se iluminam, pelos homens que te lavam as pedras da calçada, pelas putas e travestis que sorriem sem vontade, pela arte abandonada à rebelia na Avenida e que ainda ninguém reparou que lá não devia estar (grande Sesões que vens de tão longe ensinar como se faz!!!) e tudo respira noutra realidade; nunca nenhuma cidade será como tu, mais nenhuma tem esta mistura entre o brejeiro e o melancólico, a luz das àguas e o fantasmagórico dos teus nevoeiros.
Chego ao mar. Páro, sentas-te no meu colo, cidade, e fumamos um cigarro a meias, sem pensar. Ficamos assim um bom bocado, até os pés se queixarem do frio e as mãos ficarem roxas.
Volto ao bólide e ao rádio, que de repente funciona melhor (vá-se lá perceber!), e estou pronta a dizer-te um até já e ir para casa dormir; mas eis que... subitamente... se fazem ouvir os primeiros acordes da "Easy" dos Faith No More! Sem saber era mesmo isto que me apetecia ouvir hoje! E logo a seguir (UAU!) "Golden Brown", dos The Stranglers (que partida é esta? Quem está encarregue de me descobrir as músicas?); mais uma, logo de seguida: Chris de Burgh, "The lady in red" (a ficar cada vez melhor). Só pode ser um sinal para não parar de andar nas tuas ruas, pelo menos até a banda sonora perder qualidade ou ganhar uma coerência chata.
Desisto da ideia de ir para casa, troco as voltas ao trajecto planeado, saco da artilharia pesada, uma cassete (sim, em pessoa antiga que sou ainda tenho cassetes); Red Hot Chili Peppers, "Blood, Sugar Sex, Magic"; não posso confiar sempre no rádio, não vá de repente começar a dar Carla Bruni e estragar tudo; e entro em improvisação!
Viajo por todo o lado, por todas as ruelas, faço o rio e o mar de alto a baixo, visito os teus nichos, revisito o que me dá na real gana uma e outra vez, páro de vez em quando para fumar e ouço-te rir cada vez mais alto.
Tinha saudades tuas cidade.
Queria voltar para sempre, mas sabes que não seríamos felizes; tu não consegues deixar de ser um bocadinho possessiva e ciumenta (sabes que não aguento isso) e eu gosto demais de sentir a estrada debaixo dos pés, não consigo estar parada no mesmo sítio por muito tempo. Continuamos assim com pequenos momentos, é melhor; sabes que o meu corpo anda por aí, mas que o coração é teu. És a única amante que amo de verdade.
E estou feliz por ter voltado este bocadinho, com pés dormentes e mãos frias, a música chegou ao fim e estou cansada, mas tão feliz!
Agora sim, volto a casa; escrevo este texto meia enrolada no sono, abraço-me e adormeço como se estivesses a meu lado, com o teu cheiro no corpo.
Até já minha cidade.
terça-feira, 29 de janeiro de 2008
Mother Ubu (ou O mundo ao contrário)
E se fosse outro o tempo?
Se houvesse outro equilíbrio?
Se as àrvores cantassem,
E os pássaros nadassem por entre as algas do meu cabelo?
Fazias tudo acontecer se as palavras acabassem antes do fim?
Estás parado;
Eu comecei a correr.
Persigo esse mundo ao contrário que se vê pelas sombras do chão.
Mas, não sei se vou, indo.
Já vejo os leopardos vegetarianos ao fundo da rua.
Alucino?
Parece-me esse outro tempo.
Quantas versos mudos te devo nesse infinito?
Quantos pedaços perdi em histórias que nos perderam?
Não penso mais nisso, vá...
Deixo-me ir pela rua de ladrilhos amarelos com os meus companheiros.
Esperando, de facto, que haja outro place like home.
Até já, encontramo-nos fora do labirinto.
Se houvesse outro equilíbrio?
Se as àrvores cantassem,
E os pássaros nadassem por entre as algas do meu cabelo?
Fazias tudo acontecer se as palavras acabassem antes do fim?
Estás parado;
Eu comecei a correr.
Persigo esse mundo ao contrário que se vê pelas sombras do chão.
Mas, não sei se vou, indo.
Já vejo os leopardos vegetarianos ao fundo da rua.
Alucino?
Parece-me esse outro tempo.
Quantas versos mudos te devo nesse infinito?
Quantos pedaços perdi em histórias que nos perderam?
Não penso mais nisso, vá...
Deixo-me ir pela rua de ladrilhos amarelos com os meus companheiros.
Esperando, de facto, que haja outro place like home.
Até já, encontramo-nos fora do labirinto.
Requiem for a dream
segunda-feira, 28 de janeiro de 2008
Cartas de amor... quem as não tem?
Não resisti...
Encontrei este vídeo por aí perdido no Youtube e decidi pô-lo aqui em homenagem às verdadeiras declarações de amor pirosas; aquelas de que nos rimos e invejamos!
Com uma música fabulosa de Mercedes Ferrer.
Bloguei?
Bloguei sem saber?
Bloguei por aí?
Esqueci-me que as mãos nuas não contam, só os dedos cobertos de teclas.
E agora estás a olhar para mim em descrédito.
Só te pedi uma caneta, não as jóias da coroa!
Desculpa se bloguei no papel; sei que não conta.
Mas sou tonta.
Pronto bloguei... Assumo o errro.
Pede mais um copo de vinho e cala-te.
Bloguei por aí?
Esqueci-me que as mãos nuas não contam, só os dedos cobertos de teclas.
E agora estás a olhar para mim em descrédito.
Só te pedi uma caneta, não as jóias da coroa!
Desculpa se bloguei no papel; sei que não conta.
Mas sou tonta.
Pronto bloguei... Assumo o errro.
Pede mais um copo de vinho e cala-te.
domingo, 27 de janeiro de 2008
Depois do rei Sebastião...
Olha as mãos
Olha os pés
Organiza-te e estabiliza-te
Abraça-te e come-te
Salta a voz e harmoniza-te
Estabiliza-te
Abraça-te e come-me
Trinca-me as pontas dos dedos
Da alma
Os pés da alma
Estabilizada na palma da minha mão.
Olha os pés
Organiza-te e estabiliza-te
Abraça-te e come-te
Salta a voz e harmoniza-te
Estabiliza-te
Abraça-te e come-me
Trinca-me as pontas dos dedos
Da alma
Os pés da alma
Estabilizada na palma da minha mão.
Guarda-chuvas
quarta-feira, 23 de janeiro de 2008
Assim...
segunda-feira, 21 de janeiro de 2008
domingo, 20 de janeiro de 2008
Parto sem dor
"E agora eu vou-me embora
e embora a dor
não queira ir já embora
agora eu vou-me embora
e parto sem dor
E parto dentro de momentos
apesar de haver momentos
em que dentro a dor
não parte sem dor "
Sérgio Godinho
sexta-feira, 18 de janeiro de 2008
A minha casa.
Pela primeira vez na vida, tenho uma casa só para mim. E sorte das sortes encontrei uma que tem personalidade e consequentemente qualidades e defeitos marcados.
A minha casa é semi-velha a fazer de conta que é nova, é por assim dizer como uma starlette hollywoodesca que nunca chegou realmente à fama mas que com intuito de se manter jovem(porque nunca se sabe quando é que o produtor certo nos bate à porta), se foi sujeitando a recauchutagens praticadas por cirurgiões manhosos que a deixaram com um sorriso permanente e a quase impossibilidade de fechar os olhos.
Digamos, em termos quase práticos, que: sofre de humidade nos ossos, o que a leva a descascar as paredes; tem poucas janelas o que a deixa muito rabugenta, especialmente ao crepúsculo; tem tomadas que vão pela máxima "is better to burn out than to fade away" (o que leva a que seja díficil ligar a máquina de sumos recebida no natal dentro da cozinha e não me parece apropriado tê-la no quarto) e ainda por cima sofre de obstipação na sanita, este sim o problema mais grave de todos.
Ao mesmo tempo encantam-me outras das suas características; em primeiro lugar o facto de ser circular, podemos percorrer a casa toda sem voltar atrás porque nos deparamos com uma parede, há sempre uma porta (ah, mesmo que as fechaduras não funcionem muito bem e que se corra o risco de ficar preso na casa-de-banho, coisa sem demais de importância se formos a ver, estamos avisados, se fecharmos as portas é porque somos tolos!); depois adoro o facto de ter um quarto interior, exactamente no coração da casa, que tem uma janela maravilhosa... para a sala, mas não é uma janela qualquer, esta dá vontade de espreitar lá para dentro porque tem um ar atrevido e orgulhoso, de janela que se está bem marimbando para o facto de não se virar para a rua. Também temos a questão dos interruptores espalhados pela casa que aparentemente não servem para nada, pois por mais que lhes carreguemos não acendem nem apagam nenhuma luz que se possa ver, mas eu gosto de pensar que na verdade eles estão a funcionar noutra casa qualquer, e que sem querer estou a apagar a luz ao senhor que lê o jornal no sofá da sala ou a acender a luz àquele casal de adolescentes que se esgueirou para casa dos pais dela e que planeava fazer amor às escuras.
Mas o que mais gosto nesta minha casa é a possibilidade de conversas infinitas que ela proporciona. Sim, obviamente eu tenho algum peso aqui, sou actuante nestas conversas; ninguém vem para cá falar para as paredes com humidade, falam comigo; mas acho que esta minha casa tem um aconchego muito especial e uma respiração que facilita as palavras.
Abençoada casa com uma cozinha onde já se desfiaram memórias, histórias e pedaços de nós, onde se partilharam silêncios e olhares de uma beleza cansada enquanto se fumavam cigarros; bendita sala onde se pode ouvir aquela música que só nos apetece às três da manhã, sem acordar o mundo que habita dois andares acima e onde, com generoso vinho, se receberam os amigos; profano quarto com esquadria estranha e cama alta e impune, onde o brilho e a surpresa do teu olhar me fizeram enredar no teu cabelo.
Gosto desta minha casa...
quinta-feira, 17 de janeiro de 2008
Neste dia não quero acordar
"Estamos ambos a olhar para a mesma lua do mesmo mundo. Estamos ligados à realidade através do mesmo fio. Só preciso de o ir puxando devagarinho para mim."
Sputnick meu amor
Haruki Murakami
Um dia antes deste dia, envolvida em conversa tardia com um amigo com quem revisitava lugares nossos, pensava para mim em surdina que tinha demasiado espaço entre as palavras. Que me sobravam vácuos que não conseguia preencher com respirações suficientes para que tudo fizesse sentido.
Pensava que estava a dormir, mas estava acordada. Perdida num limbo que me permitia estar sem ser.
Pois neste dia novo não quero acordar.
Porque sem estar, fui. Dormia sem saber e o sonho entrou na realidade em que pensava existir e revelou-me com um abraço que afinal estava do outro lado do espelho, na noite imaginada deste dia.
Os vácuos preencheram-se sem que eu tivesse intenções de que se fizessem cumprir promessas ou desejos lançados para o ar em tom de brincadeira.
O inesperado nunca se cumpre se nos sentamos à porta à espera que nos faça uma visita (já devia ter aprendido esta lição), surge quando viramos as costas e pensamos noutras existências.
Às vezes somos mais reais nos nosso sonhos, se eles nos apanham desprevenidos.
O inesperado nunca se cumpre se nos sentamos à porta à espera que nos faça uma visita (já devia ter aprendido esta lição), surge quando viramos as costas e pensamos noutras existências.
Às vezes somos mais reais nos nosso sonhos, se eles nos apanham desprevenidos.
segunda-feira, 14 de janeiro de 2008
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